O Brasil está mais perto do Polo Sul do que você imagina!

 

O Brasil está mais perto do Polo Sul do que você imagina!

 Por MauricioMarx

                Nosso país tem um pequeno posto avançado próximo ao polo sul geográfico. E lá são feitas medições que nos ajudam a compreender o impacto da ação humana sobre o clima e os ecossistemas terrestres.

            Primeiro, vamos lembrar como e porque a atmosfera pode mudar. As causas naturais de variação da temperatura terrestre são, normalmente, atividade solar (que passa por um máximo e um mínimo num ciclo de cerca de 11 anos), vulcanismo (que libera partículas na atmosfera e colabora com o efeito estufa, por exemplo), e os fenômenos ENSO extremos, que já chamamos por essas bandas de El Niño. As mudanças climáticas de que tanto se fala são um processo relativamente recente (ocorreram nos últimos 30 anos, segundo observações científicas) e são fruto de fatores naturais, mas também antrópicos.

            Vamos agora viajar até o quinto e mais novo oceano da Terra, o Austral, e a massa de gelo e solo mais preservada do nosso planeta, a Antártica. Como podemos detectar lá o impacto das mudanças climáticas? Áreas do oceano austral que antes eram cobertas de gelo durante grande parte do ano não congelam mais; têm havido perdas notáveis de massa de gelo no continente (retração de geleiras); e como último exemplo, que nos interessará mais adiante, temos constatado mudanças importantes na química da atmosfera (o nível de CO2 em 1987 era de 350 partes por milhão, enquanto em 2021 era de 415 ppm, uma variação de 65ppm em pouco mais de 30 anos!).

Eis, segundo o Professor Heitor Evangelista, da UERJ, porque devemos nos preocupar com a marca de 400ppm de CO2: o último episódio da história terrestre onde tivemos esse nível desse gás estufa, segundo os testemunhos de gelo antártico (amostras tiradas, em grande profundidade, de geleiras preservadas), foi marcado por temperaturas entre 2ºC e 3ºC maiores que as médias de hoje, e o nível do mar estava entre 6m e 9m superior ao atual – isso significa que, se nós não nos mobilizarmos para reverter a situação, muita coisa pode mudar para pior! Por exemplo, das 136 cidades portuárias com mais de 1 milhão de habitantes e mais expostas aos impactos da elevação do nível do mar, 52 estão na Ásia, 17 nos EUA, 14 na América do Sul e 10 estão aqui, no Brasil.

Mas eu disse que tem Brasil perto do polo sul, e agora vou dar o endereço: nas coordenadas 84º Sul 79º30’ Oeste está baseado o módulo Criosfera 1, concebido por cientistas brasileiros e equipado com tecnologia nacional, ele está a menos de 700km do polo sul geográfico, sendo totalmente autossuficiente em termos de energia (possui placas solares e turbinas eólicas que o suprem com eletricidade limpa). Trata-se de um contêiner de 2,5m de altura, 2,6m de largura e 6,3m de comprimento, suspenso a 1,5m do solo gelado para evitar o acúmulo de neve, tendo sido inaugurado em 12 de janeiro de 2012. Seus compartimentos básicos executam, na maioria das vezes de forma automática e enviando para os centros de pesquisa de brasileiros os dados via satélite, experimentos sobre raios cósmicos, monitoramento de aerossóis e de CO2, pesquisas sobre microbiologia e aerobiologia antárticas, além de acompanhamento meteorológico e de radiação solar. Foi a partir de lá que cientistas brasileiros detectaram em suas pesquisas pela primeira vez, em 2015, um nível de 400ppm de CO2 tão no interior da vastidão do continente gelado.

Agora que nós sabemos que o Brasil está na Antártica, pode ser até que você se anime para pegar um casaquinho! Mas o mais importante é percebermos que essa grande conquista tecnológica é fruto de muito trabalho de nossos cientistas e de pessoas como você, que se interessam por ciência!  

 

Referências:

https://www.criosfera1.com/

Apresentação do Professor Heitor Evangelista, UERJ: “O Ártico e a Antártica sob Perspectiva Interdisciplinar: Ciências Atmosféricas e Mudança do Clima na Antártica”, disponível em https://drive.google.com/file/d/1jiaG8QG2KAHTKRsWBLnMih4e66U7-MpL/view

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