Como a soja pode ser utilizada para o tratamento da água que bebemos?
Por AlexandreSantuchi
Sim, é isso mesmo que você leu! Apesar de ser um método ainda em estudo e que precisa ser aprimorado, existem pesquisas científicas para o desenvolvimento de técnicas de decomposição de poluentes presentes na água utilizando uma substância extraída da casca da soja. Para entender melhor este assunto, vamos relembrar o que são enzimas e suas principais aplicações, com a finalidade de compreender a sua relação com poluentes orgânicos persistentes e o seu tratamento adequado.
No nosso cotidiano, estamos em contato com produtos que possuem substâncias tóxicas em sua composição, que podem se acumular na água que consumimos, sendo extremamente prejudiciais à saúde. Entre eles temos o triclosan – que faz parte da composição de produtos como pastas de dente, sabonetes, remédios e cosméticos – e o triclorofenol – que está presente em antissépticos e pesticidas em geral. Esses poluentes ambientais, se consumidos em grande quantidade, podem causar linfomas, leucemia e câncer de fígado. Portanto, o tratamento da água que contém estes poluentes é uma abordagem bastante importante. Neste contexto, o uso de enzimas tem sido uma estratégia sustentável para a remoção de substâncias orgânicas persistentes de águas residuais.
Mas, afinal, o que são enzimas? Enzimas são substâncias orgânicas que agem como catalisadores biológicos, diminuindo a energia de ativação de uma reação química e, consequentemente, aumentando a sua velocidade. Elas são obtidas a partir de recursos renováveis, o que é uma vantagem em relação a catalisadores químicos tradicionais. E uma das principais características é que elas agem, especificamente, sobre uma substância, que chamamos de substrato. Por conta desse comportamento, uma de suas aplicações é na remoção de poluentes orgânicos de águas residuais, também chamada de biorremediação. Dentre as enzimas que possuem essa aplicação, nós temos as peroxidases, que catalisam reações de oxirredução (aquelas que envolvem transferência de elétrons de uma espécie química para outra) na presença de peróxido de hidrogênio, conhecido como água oxigenada.
Dito isto, podemos falar do principal motivador deste estudo: a soja. As cascas das sementes de soja possuem uma enzima chamada soybean peroxidase e, atualmente, existe um grande interesse no seu uso por diversos motivos. O primeiro deles é a grande disponibilidade de soja no Brasil, que é o maior produtor mundial deste agronegócio, sendo uma maneira de reaproveitar um rejeito do processo, que são as cascas. Além disso, também há vantagens operacionais envolvidas, como a capacidade desta enzima de atuar em uma ampla faixa de pH, altas temperaturas, e com diversos substratos diferentes.
Portanto, de acordo com pesquisas realizadas pela Universidade de São Paulo em parceria com a Universidade de Turim na Itália que estudam desde a extração e purificação da enzima a partir da casca da semente de soja até a realização de experimentos de degradação de diversos poluentes: o uso da enzima da soja pode ser considerada uma forma bastante promissora e ecológica para o tratamento de água.
Mais informações em:
AL-ANSARI, M.; SAHA, B.; MAZLOUM, S.; TAYLOR, K.; BEWTRA, J.; BISWAS, N. “Soybean peroxidase applications in wastewater treatment”. Soybeans: Cultivation, Uses and Nutrition, p. 189–221, 2011.
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